quinta-feira, novembro 10, 2005

alguns trechos do meu tfg. é pra ter uma idéia da viagem:

“A autenticidade divulgada não é histórica, é visual. Tudo parece verdadeiro, em todo caso é verdadeiro o fato de que pareça verdadeiro, e que a coisa com que pareça seja dada como verdadeira, ainda que, como Alice no País das Maravilhas, nunca tenha existido. A desenvoltura é tal que as lápides mortuárias do mundo inteiro aparecem esculpidas sempre em inglês, mas nenhum visitante liga para isso (existe algum lugar onde não se fala inglês?).”
(Umberto Eco, Viagem na Irrealidade Cotidiana)
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Nesse ramo, é comumente perceptível a necessidade de se atingir a hiper-realidade na criação de tais modelos ilustrativos. As unidades habitacionais ganham luminosidade impecável, mobiliários luxuosos, geralmente em uma escala levemente menor, de modo a se criar a impressão de espaços mais amplos, piscinas em ambientes fechados com suas águas sendo movimentadas por um vento que não poderia existir (mas, afinal, a água tem ondas, não?). Enfim, cria-se um ambiente mais real que o real, este sim é o produto vendido.
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Atuais debates, atividades e intervenções práticas de restauro enfrentam o problema da necessidade de se eleger um período a ser mantido, sob o custo do sacrifício de outros. Do contrário, uma posição de se manter simultaneamente vestígios de períodos não contemporâneos das construções pode nunca trazer ao presente o estado temporal da edificação em sua completude. A doutrina de se manter evidente na intervenção os documentos e evidências efetivos pode nunca recriar o ambiente e recuperar a memória, ou ao menos uma memória única e uniforme. O processo é seletivo e envolve juízo de valores, o que elimina a possibilidade de interpretações outras que não a do restaurador responsável pela obra.

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