quinta-feira, dezembro 15, 2005

o prefeito feliz

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1512200501.htm

era uma vez uma cidade. nessa cidade, moravam pessoas. de milionários a miseráveis. todos juntos num grande, enorme conglomerado de gente. alguns viviam bem, outros muitos mal tinham onde dormir. e essa cidade era administrada por um prefeito. um prefeito que mal conhecia 1/5 da cidade. um prefeito que não fazia idéia de onde moravam os habitantes 90% mais pobres, o que vestiam, o que consumiam, como se locomoviam, o que tinham que fazer para sobreviver. por isso mesmo o prefeito achava que todos eram felizes. para o prefeito, a cidade era a perfeição. ninguém estava fora da escola -- pelo menos dos que mereciam estar na escola, isso é, os que já nasciam em berço de ouro. ninguém tinha problema para se locomover -- afinal, para o prefeito, o transporte público era excelente e era justo cobrar caro por ele, já que todo mundo tinha carro com gasolina no tanque e só pegava ônibus se quisesse e quando quisesse. na cabeça do prefeito, não podiam existir mendigos, pelo menos não à vista dos ricos, então ele simplesmente expulsava os miseráveis de perto de onde os ricos moravam, para ficarem longe da vista. não, o prefeito não fazia idéia do nome da cidade. mas ia administrando, ou fingindo que administrava.
nessa cidade, por exemplo, existia um serviço para atender aos portadores de deficiência. um dos poucos serviços bons dados pela prefeitura. as pessoas que necessitavam de transporte porque não tinham condições de dirigir ou mesmo de pegar um ônibus podiam ser atendidas por automóveis que as buscavam em casa e as levavam para onde necessitavam. e o prefeito, num ato típico do partido ao qual pertencia, cortou tal benefício de muitos dos usuários desse sistema. como pode um monte de gente assim, inválida, gastar esse dinheiro todo? dinheiro esse que poderia servir para pagar a gasolina de um vereador! ora, vejam só.
e assim ia o prefeito, restringindo os serviços ao invés de ampliar.
um belo dia o prefeito acordou e olhou para o chão. hmmm, pensou ele, o chão é da cidade, por que não cobrar para usá-lo? e assim o fez. a primeira coisa, começou a cobrar por quem ousava atochar um poste ao chão. como conseqüência, as distribuidoras de energia repassaram o preço na conta. ah, tudo bem, todo mundo pode pagar, todo mundo é rico e feliz mesmo.
e a idéia de cobrar pelo chão subiu-lhe à cabeça. e olhou o rio. e se cobrasse pela água? ah, já cobra, porque já tem uma empresa que explora o fato de despoluir o imundo rio (seria interessante para a empresa a despoluição do rio?). mas... tem água embaixo da terra! e tem gente usando essa água! como ousam, usar uma água que é propriedade da cidade? embaixo do solo da cidade? embaixo do nariz do prefeito? calúnia! e lá foi o prefeito decretar que iria cobrar pela água que estava abaixo do solo.

iria ele parar por aí? hm, a sua cuca (oca, por sinal) lhe tentava a cobrar os frutos das árvores que nasciam na terra, por que não? ou mais. e lá ia o ambicioso prefeitozinho rumo à presidência de um país que, assim como sua cidade, não tinha pobres ou miseráveis. e todos viviam felizes. e o prefeito sonhava. e dormia feliz.

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