sábado, julho 30, 2005

portas

acho que estou meio down. escrevi esse texto agora.
~

PORTAS

Assim que se deu conta do que fez, o rapaz tentou sair. Mas não conseguiu. E continuou a caminhar pelo longo corredor, que era o que lhe restava fazer.
Estava primeiro em uma grande sala, com muitas portas que levavam a inúmeros corredores. Algumas misteriosas, outras amedrontadoras, muitas tentadoras. Escolhera a que lhe fosse mais conveniente e mais próxima de sua personalidade. Deu de cara com um longo corredor. De longo não se sabia desde o início, porque só conseguia ver a poucos metros adiante. Alguma neblina, ou algo do tipo, o impedia de enxergar o corredor até seu fim. Mas não lhe restava outra opção que não fosse continuar andando. Algo o empurrava para frente mesmo contra sua vontade.
O corredor que estava tinha muitas portas. Algumas grandes, outras pequenas. O rapaz nunca havia entrado em nenhuma delas. Seguia seu caminho solitário e linear pelo chão, às vezes incerto de seus passos, outras vezes com muita certeza de suas escolhas.
Mas não entrava em nenhuma porta. No início do corredor, algumas estavam abertas, escancaradas. Uma ou outra o rapaz não viu, ou não quis entrar porque achava que havia portas melhores lhe aguardando. Mesmo não podendo ver muito adiante.
Algumas portas lhe tentavam. Eram essas portas grandes ou pequenas. Em certos termos, seguia algum padrão. Até agora, continuava no corredor, ou porque não quis se aventurar por nenhuma porta que lhe abrira ou porque as portas que lhe agradavam não abriam de jeito nenhum. Todas as que ele queria entrar estavam trancadas. Algumas com maçanetas, mas não tinham chaves; outras estavam tão altas que o rapaz mal conseguia alcançar. Algumas até tinham vidro que lhe permitiam ver seu interior, o que o tentava ainda mais a vasculhar seus interiores, ainda que sem sucesso. Outras ainda só se abriram depois que o rapaz passou por elas. A essa altura, o rapaz já tinha tentado entrar em cinco delas, nenhuma estava aberta.
Como não conseguia andar para trás, às vezes olhava, inconformado com algumas, orgulhoso com outras. Algumas tinham sumido misteriosamente, e permanecem apenas na lembrança do rapaz.
Por alguns passos o rapaz não encontrou portas, ou elas estavam muito distantes, ou então não lhe agradavam o suficiente para satisfazer sua curiosidade e entrar.
Com a porta que está agora ao seu lado, não é diferente. Nela, não há maçaneta. O rapaz consegue ver através dela, mas apenas vultos e não imagens claras. São imagens sugestivas, que o colocam em dúvida se está ou não lhe convidando a entrar. Às vezes a porta, por si só, abre e fica entreaberta, mas é muito pesada para ele empurrar e entrar de vez. Outras vezes a porta se fecha sozinha, e o rapaz nada tem a fazer a não ser continuar a caminhar pelo longo corredor.
Ainda bem que ele não sofre de claustrofobia.

~

... e aquele "não" de ontem não era para qualquer outra pessoa senão para mim mesmo.

Nenhum comentário: